Observações sobre “O ramo de ouro” de Frazer

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 Observações sobre O ramo de ouro de Frazer 


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Parte I · Parte II


[Creio agora que seria correto iniciar um <meu> livro sobre com observações sobre a metafísica como uma espécie de magia. 18

Ao fazê-lo, no entanto, eu não poderia falar a favor da magia nem fazer troça dela. 19

A profundidade da magia teria que ser mantida. – Sim, pois a eliminação de toda da magia teria aqui o caráter da própria magia.20

(MS 110, p. 177)

Pois, se eu comecei a falar do "mundo" (e não desta árvore ou mesa), o que teria querido senão encantar com as minhas palavras algo de mais alto?]21

(MS 110, p. 178)

Deve-se começar pelo erro e convertê-lo à verdade.22

Isto é, deve-se expor a fonte do erro, senão de nada serve ouvir a verdade. Ela não pode penetrar quando outra coisa ocupa o seu lugar. 23

Para convencer alguém da verdade, não é suficiente constatá-la, mas deve-se encontrar o caminho do erro para a verdade.24

Eu tenho que mergulhar repetidamente na água da dúvida.25

A apresentação que faz Frazer das concepções mágicas e religiosas dos homens é insatisfatória: ela faz com que essas concepções apareçam como erros.26

Estava então Agostinho errado quando invocava a Deus em cada página das Confissões?

Entretanto – pode-se dizer – se ele não estava errado, então quem estava era o santo budista – ou outro qualquer – cuja religião expressa concepções completamente diferentes. Mas nenhum deles estava errado. Exceto quando afirmava uma teoria.27

Já a ideia de querer explicar o costume28 – talvez a morte do rei- sacerdote – me parece equivocada. Tudo o que Frazer faz é torná-los plausíveis para homens que pensam de modo semelhante a ele. É muito singular que todos esses costumes terminem, por assim dizer, sendo apresentados como estupidez.

Jamais seria plausível, porém, que as pessoas fizessem //tudo isso// por pura estupidez.

Quando ele nos explica, por exemplo, que o rei tinha que ser morto no seu auge,

(TS 211, p. 313)

porque caso contrário, segundo as concepções dos selvagens, a sua alma não se conservaria fresca,29 então só se pode dizer: onde estes costumes e concepções andam juntos, então o costume não se origina da concepção, mas ambos já estão de fato ali.30

Pode bem ser, e ocorre muito hoje em dia, que uma pessoa abandone um costume depois que reconheceu um erro sobre o qual ele se ampara. Mas este costume caso só se dá onde chamar a atenção de uma pessoa sobre o seu erro for suficiente para demovê-la do seu modo de agir. Mas este não é o caso dos costumes religiosos de um povo, e, por isso, não se trata aqui de um erro. 31

Frazer diz que é muito difícil descobrir o erro na magia – e por isso ela dura tanto – porque, por exemplo, uma conjuração para trazer chuva, deve, mais cedo ou mais tarde, certamente aparecer como eficaz.32 Mas33 então é muito estranho que as pessoas não notem mais cedo que, de todo modo, mais cedo ou mais tarde chove.

Eu creio que o empreendimento de uma explicação já é falho, porque só se tem que organizar corretamente o que se sabe, e nada acrescentar, e vem por si mesma a satisfação a que se aspira pela explicação.34

E a explicação não é aqui de nenhum modo o que satisfaz. Quando Frazer começa a nos relatar a história do rei do bosque de Nemi, ele o faz num tom que mostra que ele sente, e nos quer fazer sentir, que aqui ocorre algo de estranho e temível. Mas a pergunta ―por que isso ocorre?‖ só pode ser respondida na verdade por: por que isso é temível. Isto é, o mesmo que se nos apresenta nesse acontecimento como temível, grandioso, horripilante, trágico etc., não menos que trivial e insignificante, isso gerou esse acontecimento35

(TS 211, p. 314)

Aqui só se pode descrever e dizer: assim é a vida humana.

A explicação é, comparada com a impressão que a descrição nos causa, demasiado insegura.36

Toda explicação já é uma hipótese.37

Para quem, no entanto, porventura esteja intranqüilo com relação ao amor, uma explicação hipotética é de pouca ajuda. – Ela não vai tranqüilizá-lo.38

O aperto dos pensamentos que não podem vir para fora, porque todos querem empurrar-se para a frente e, assim, se trancam na saída. 39

Se alguém coloca aquele relato do rei-sacerdote de Nemi junto com a  frase ―a majestade da morte‖, vê então que ambos são um só.40

A vida do rei-sacerdote apresenta aquilo que se diz com aquela frase.41

Quem é comovido pela majestade da morte, pode expressá-lo por meio de uma tal vida. – Isto também não é nenhuma explicação, claro, mas apenas substituir um símbolo por outro. Ou: uma cerimônia por outra.42